Quem é o chefe? Você ou seu computador?

Publicação original: http://www.mudancasabruptas.com.br


Essa foi uma pergunta desafio feita pelo editor do New York Times em outubro de 2008. As respostas vieram dos mais ilustres pesquisadores e professores americanos. Será que estamos no caminho certo?

Nem mesmo Alan Turing poderia imaginar tamanho desenvolvimento de sua idéia. Turing foi um excelente matemático que viveu entre 1912 e 1954 e ajudou a Inglaterra a quebrar o código dos alemães na segunda guerra mundial. Sua arma: algoritmos e lógica de raciocínio. Foi ele quem concebeu a idéia de uma máquina que tivesse uma fita “infinita” contendo informações codificadas para cumprir tarefas. Essa fita se tornou fita magnética, que virou disquete, que virou CD e finalmente pen-drive. Mas a idéia ainda é a mesma, sobreviveu ao tempo por um simples motivo: É simples e funciona.


Alan Turing



Assim como a natureza, a humanidade só se desenvolve graças a idéias simples e funcionais. As leis da gravitação de Newton funcionam no mundo macroscópico porque são simples e auto-explicativas. As leis de Einstein funcionam porque são simples. Não estamos falando em equações, mas na concepção da idéia. As equações são meras representações de uma idéia e essas equações podem ser simples ou complexas. Mas idéias complexas não resistem ao crivo da evolução. A idéia errônea de que a Terra era o centro do universo só durou graças à perseguição da igreja cometendo crimes e inventando terrores sobre os leigos e mal instruídos.


Uma idéia simples não implica em modelo simples para um certo fenômeno. Teorias que se desenvolvem e avançam no tempo, só conseguem êxito pois são explicativas e comprováveis por experimentos. A teoria da curvatura do espaço de Einstein sobrevive pois é comprovada a cada dia por medições em todo mundo. Mas mesmo ela não é global já que não se aplica ao mundo microscópico. A teoria de Darwin segue o mesmo princípio. Uma teoria não é um instrumento de previsão ou análise, é um instrumento de explicação.


Já a concepção de modelos é diferente pois são...modelos! E modelos não são concebidos para serem reais, mas para serem... modelos da realidade. Um modelo de um navio em um tanque de testes não é um navio, é pequeno, pode ser de plástico, com ondas que não são reais. Seu comportamento é parecido com a realidade de um grande navio, mas o modelo não é o navio. Mas se concebido com as dimensões proporcionais ao navio real, o mundo físico nos mostra grande correlação. Isso porque o modo como pensamos, se estamos bem ou mal, não vai interferir na formação da onda que atinge o modelo do navio.


Já no mercado de ações os modelos utilizados pelos analistas financeiros são patéticos e arqueológicos. Isso porque os analistas ainda não aprenderam que ao incitar o mercado através da imprensa, a resposta que vem do mercado não está prevista em seus modelos de finanças. Ao indicar um certo pensamento, as pessoas mudam seu modo de pensar, e de forma imprevisível.




E por que os modelos são patéticos? Porque não foram concebidos sobre a forma humana de pensamento. Não sabemos como um animal de laboratório pensa, que dirá outras pessoas. Analistas adoram criar cenários otimistas e pessimistas e para tanto usam e abusam das retas de projeções. Ah...se o mundo fosse linear, se tudo fosse reta... que chateação ia ser a vida! A vida é complexa e não linear conforme teorias biológicas já nos provaram. Não sabemos nem o que fazem os chamados “DNA lixos”. Depois de estimuladas algumas cadeias de DNA, os biólogos pensaram de forma linear que os outros que não respondiam estavam apenas para preencher espaço no genoma humano. Erraram, pois a vida é não linear. Descobriu-se depois que os “DNA-lixos” podem ter uma função muito importante na geração de proteínas nas células.


Qual o modelo mais usado para opções? Black-Scholes, que nem de perto consegue ajudar no entendimento da resposta do mercado quando sofre algum tipo de perturbação. Mas a indústria de computadores adora vender softwares e mais softwares para fundos de investimentos lotados de gráficos coloridos, com dados passando o tempo todo na tela para gerar um frenesi nos funcionários.


Quanto tempo os funcionários de fundos de investimentos não perdem arrastando retas com o mouse, puxando linhas de Fibonacci , olhando as ações abaixo ou acima da média móvel? E quando o mercado vira? Quanta correria para mudar a “perna” de entrada para saída ou vice-versa. Terminais de notícias a cada segundo, telas de plasma para todos os cantos, e computadores comandando a vida de todos usando... modelos furados.


Ah sim, mas se ganha muito dinheiro. A explicação é que se ganha muito dinheiro pois se aplica muito dinheiro. Quando um fundo diz que terminou o ano com ganho de 200%, os investidores isolados também ganharam, talvez muito menos, algo em torno de 20% e não precisaram de modelos. Apenas não tiveram tempo de ficar entrando e saindo o tempo todo como os softwares de computadores estão fazendo nos dias de hoje de forma automática. Mas não foi modelo nenhum que funcionou e sim um trabalho escravo de brincar de vídeo-game com o mercado. E por isso, quando todo o mercado cai, ninguém fala mais em modelo, mas em pânico.


Quando o mercado sobe, todos ganham, e quando cai, todos perdem, essa ainda é a regra do mercado. Pode mudar, mas ainda a regra é essa. E isso nada tem a ver com modelos ou softwares. Mas devemos mudar e voltar a investir como antes? Não. O que se tem que fazer é usar essa máquina poderosa que é o computador para ser seu empregado e não seu chefe. E para isso, são necessárias três coisas:

1. Estudar. Estudar para gerar novas idéias que permitam entender comportamentos e não apenas gerar dados que não dizem nada e apenas te estressam.
2. Estudar. Estudar para entender se a concepção da nova idéia tem condição de virar uma teoria auto-explicativa e verossímil.
3. Estudar. Estudar para tornar a teoria um modelo, um modelo de verdade na área de finanças e não adaptações baratas de outras áreas.

Mas claro que isso não é para fundos de investimentos. Isso deveria ser feito pelas nossas faculdades e universidades. Falta arrojo e coragem na área de finanças no Brasil para mudar o paradigma e perceber que as técnicas do século XIX não valem no século XXI. O mais avançado que se tem é algo como GARCH, ou talvez quem sabe método de Monte Carlo em termos de pesquisa, mas mesmo assim aplicados a conjecturas que nada tem de científicas. Um ou outro lugar ainda incipiente se arrisca em usar alguma coisa de "caos" ou outra teoria fora da área de finanças tradicional. E quem usa isso, é caçado como as bruxas da idade média. Os modelos existentes e tradicionais copiam de forma barata conjuntos de equações lineares e discretas que não servem para o mercado.


Mesmo os fundos que se auto-intitulam “quant” usam modelos e teorias que não resistem na primeira ameaça de crash. Muitos gráficos e computadores dentro de uma sala não são garantia de sucesso. Na verdade compraram softwares de fora do país, de empresas “tradicionais” do ramo, que quase foram à falência nos dois últimos anos, mas insistem em continuar vendendo os mesmos modelos furados.


Enquanto o computador comandar os negócios, sendo chefes dos analistas, gerando dados e mais dados, o mundo financeiro continuará distante de outras áreas. Alan Turing concebeu a idéia de uma máquina que recebia informações e não que gerava informações. Os analistas devem gerar idéias e alimentar os computadores e não o contrário. Uma boa idéia vale mais do que bilhões de dados. O banco Lehman-Brothers tinha muitos computadores, muitos gráficos e milhões de dados de todo o mercado. E graças aos seus computadores, seus “chefes digitais”, o mundo caiu de joelhos diante de informações mal interpretadas.


Para ser chefe de sua vida, seja chefe de seu computador e gere uma idéia. O retorno será muito maior do que dados e gráficos na tela. O retorno será sua vida de volta.

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